domingo, 10 de outubro de 2010

A ÚLTIMA PROFESSORA



Olá Pessoal,
Estou postando esse artigo que foi publicado no Jornal O Dia , 
mas que recebi como email de um amigo.
Achei bem interessante , uma vez que estamos prestes a comemorar o Dia dos Professores. Esse é pra refletirmos sobre a nossa profissão, mas... parece que está  a desaparecer, tendo em vista os rumos que a educação em nosso país tem tomado.
Espero que vocês reflitam a respeito, assim como eu já fiz a minha reflexão.







A ÚLTIMA PROFESSORA

  Carlos Eduardo Novaes


Estamos em 2989 e alguns cientistas, trabalhando nas ruínas de um sítio arqueológico (local outrora conhecido como Jacarepaguá) encontraram uma mandíbula de mulher. Levada a laboratório, descobriu-se que ela pertencia a uma professora. Não uma professora qualquer, mas provavelmente a última da espécie classificada como de 1º Grau que viveu por volta de 2020 num antigo país chamado Brasil.

No final do séc. XXI, o Brasil que conhecemos tornou-se uma aglomerado de tribos independentes expressando-se nos mais diferentes idiomas. A descoberta do que ficou conhecido como a Professora de Jacarepaguá (uma versão mais moderna do Homem de Neanderthal) tornou possível encontrar as razões da dissolução do pais.

Buscando nos livros, os cientistas perceberam que houve uma época, entre o início do séc. XX e meados dos anos 50, em que professores desse extinto país ocupavam uma posição invejável na escala social. As famílias monogâmicas das classes médias e altas orgulhavam-se de poderem encaminhar suas filhas para a profissão. Casar com uma professora era a aspiração suprema de muitos homens. Elas eram olhadas com respeito, admiração e desfrutavam de um status semelhante aos dos militares. E salários ídem, reconhecidas na sua missão histórica de educar.

Não se sabe precisar a data, mas parece que foi no final dos anos 70 que o magistério começou a desabar na escala social. Por mais que quebrem a cabeça, nossos cientistas não conseguem entender as razões dessa queda vertiginosa. Não terá sido por falta de escolas, porque o país esforçava-se para entrar na modernidade e necessitava ampliar sua rede escolar. Não terá sido também por falta de quem educar porque esse atrasado país somava mais de 50 milhões de analfabetos e semiletrados no início dos ano 90. Muito menos pela possibilidade de substituir professoras por robôs, televisores e computadores. Por que então o magistério passou a ser tratado como os servos do antigo Egito?
A princípio suspeitou-se que esse povo atrasado e tropical tivesse uma caixa craniana inferior à das raças desenvolvidas. Mais tarde encontraram-se outras razões para o declínio do magistério: um complô contra a Educação, criado pela classe dominante (10% da população) que detinha mais de 50% da renda nacional. Não interessava a ela ver o saber democratizado ou seus privilégios estariam ameaçados. Os professores despencaram para os últimos lugares da tabela econômica, equiparando-se aos profissionais não especializados mais mal pagos desse país. Alguns, ganhando salário-mínimo, recebiam menos que os operários que ajudaram a levantar os Jardins Suspensos da Babilônia.

O re sultado é que a partir do início do século XXI, o professorado tornou-se uma espécie em extinção. Documentos da época informam que quando uma jovem anunciava o desejo de ser professora a família a colocava de castigo. Era preferível ganhar a vida como chacrete em programa de auditório. Os cientistas pesquisaram o desaparecimento de outras atividades nesse país: funileiro, cocheiro, acendedor de lampiões. Ocorre que esses profissionais foram engolidos pelos avanços da civilização. No caso dos professores não há progresso nem tecnologia capaz de substituir sua presença. É a professora quem nos leva pela mão na travessia para as primeiras letras. É ela quem nos coloca no ponto de partida e com uma palmadinha no traseiro parece dizer:"Agora vai à luta".

Segundo os cientistas, os governos da época, preocupados com questões mais transcendentais, não perceberam a escassez de professores no mercado. Foi preciso que as escolas começassem a fechar e os donos das escolas particulares esperneassem desesperados, para o Governo tomar providências. Que providências? Importar professores, como fez com o álcool. No início dava-se preferência a Portugal e as ex-colônias. Mas eles também tinham suas crianças para educar, de modo que o Governo teve que recorrer ao Paraguai, Bolívia, Guianas.
Logo os países desenvolvidos, que já dominavam a cultura desse País, perceberam o alcance do negócio e trataram de enviar, gratuitamente, bandos de professores às escolas brasileiras.

O país tornou-se uma Babel. Em algumas regiões ensinava-se em japonês, em outras, em alemão ou inglês, ou italiano ou espanhol. Apenas uma única escola, em Jacarepaguá, uma professora resistia, ensinando os alunos em português. Sua morte tornou-se um marco na história da Educação nesse país. Foi enterrada com honras de herói nacional e o monumento ao "Professor Desconhecido", erguido no antigo Centro da Cidade, reproduz seu rosto na figura principal. Ao pé do monumento, os dizeres:

" À última professora brasileira, homenagem dos seus ex-alunos."
Foi a última frase que se escreveu nesse país em português.
( O DIA, 02/12/90)

1 comentário:

  1. Infelizmente... acho que precisará desaparecer todos os professores do Brasil pra que os nossos governantes e toda a nossa sociedade acordem para o caos que está a educação do nosso país.
    Amo a minha profissão, mas é com pesar que vejo cada dia a extinção da nossa profissão.

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