sábado, 22 de janeiro de 2011

A invenção do professor


Cristovam Buarque

O Brasil descobriu, finalmente, o problema da educac?o. O que, ate dois anos atras, era uma ?nota so? de um politico esta aos poucos se transformando na nota principal de todos. E uma boa noticia, e um enorme desafio: como sair do vicio do abandono ou mesmo da avers?o para a prioridade a educac?o, quando o proprio conceito de educac?o esta em mutac?o. Com os novos avancos, tanto cientificos sobre o cerebro como tecnologicos sobre a teleinformatica, os velhos sistemas de pedagogia entraram em crise. Antes que cirurgias neuroinformacionais sejam capazes de implantar chips de conhecimento no cerebro, sera preciso mudar a escola e o principal desafio e inventar o professor das primeiras decadas do seculo XXI.

Ate aqui, qualquer que fosse o metodo, o professor com um pedaco de giz era o instrumento de transmiss?o de conhecimento. Com ou sem a participac?o construtiva do aluno, o conhecimento era transportado na cabeca do professor e armazenado estaticamente nas prateleiras das bibliotecas. Daqui para frente, isso n?o e mais verdade: um oceano de conhecimento esta no ar. O professor continua presente, mas n?o necessariamente ao vivo; esta por tras de todo o processo e todo equipamento utilizado.

Para esse mundo novo, o professor tera que ser inventado, como o auxiliar da antena, orientador educacional, tutor do aluno-surfista no oceano do conhecimento. Seu papel sera produzir saber e orientar o aluno para evitar que se perca no excesso de informac?es, faze-lo ser capaz de adquirir solida formac?o. Ajudar os alunos a conhecer, entender, deslumbrar-se, indignar-se e querer transformar o mundo ao redor, convivendo com ele e suas pessoas, com fortes conceitos e nenhum preconceito.

Isso vai exigir a invenc?o do professor, assim chamada enquanto outra palavra n?o surgir. Paises como a Finlandia, Coreia e aqueles que ja chegaram educados ao final do seculo XX devem conseguir essa evoluc?o. O Brasil e outros paises que abandonaram a educac?o aos niveis do final do seculo XIX v?o ter de fazer uma revoluc?o, ou ficar?o definitivamente para tras, com apenas a minoria rica indo estudar em cidades estrangeiras, em outros paises ou em condominios superfechados, dentro do territorio geografico do pais, mas em outro mundo cultural.

A saida esta em comecar imediatamente a construc?o de novos professores, com uma Carreira Nacional do Magisterio que ofereca excelentes salarios aos jovens que passarem em duros concursos, sabendo usar todos os equipamentos modernos, para ensinar em escolas bem construidas, bem equipadas, onde trabalhar?o em dedicac?o exclusiva, com tempo para estudos e reciclagem, sem necessidade de greves, sem o velho costume da falsa-aula, e com total liberdade pedagogica e metas a cumprir. Contratando 100 mil desses novos professores, poderemos incorporar 3 milh?es de novos alunos por ano. Enquanto isso, os demais alunos e professores devem continuar recebendo as melhorias do Piso Salarial, Fundef, Fundeb, PDE, Ideb, aumentos de salarios que melhoram o ensino do seculo XIX, mas n?o revolucionam, n?o elevam o potencial as necessidades do seculo XXI.

Temos duas alternativas: seguir nos enganando com os jeitinhos de minusculos avancos, ou inventarmos o novo professor, para uma nova escola. O problema e que antes de inventar o novo professor, precisamos inventar uma nova politica e essa se choca com o politico como ele e hoje. Por isso, antes de inventar o novo professor, precisamos inventar outro tipo de politico.

Artigo publicado na revista Profiss?o Mestre - novembro de 2008

Professor da Universidade de Brasília e senador pelo PDT/DF. Site: www.cristovam.com.br.

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