sexta-feira, 13 de julho de 2012

Alto investimento não garante aprendizado
Estudo internacional revela que países com melhor desempenho não são os que mais gastam
Antônio Gois
O ECONOMISTA Gustavo Ioschpe lembra que gasto brasileiro com educação é igual à média dos países da OCDE
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No momento em que o Brasil planeja dar um grande salto no nível de investimento em educação, convém analisar com calma como os países com melhores resultados no Pisa (exame internacional que compara o desempenho de alunos) utilizam os recursos disponíveis para traduzir este esforço em efetivo aprendizado. Um informe publicado neste ano pela OCDE, entidade que organiza o exame, revela que altos gastos não garantem melhor qualidade do ensino. O estudo comparou o desempenho de alunos em testes de leitura em 43 países com o nível de gasto por estudante de 6 a 15 anos. O Brasil, por exemplo, aparece no levantamento com um gasto médio de 18 mil dólares por aluno (numa comparação em que já é levada em conta o custo de vida em cada país). É, por exemplo, 44% a mais do que o verificado na Turquia. Os estudantes turcos, no entanto, estão em média 52 pontos à frente dos brasileiros na escala do Pisa, o que equivale a dizer que os brasileiros estão quase dois anos atrasados em relação a eles em termos de aprendizado. Apesar do contraexemplo brasileiro, para a OCDE, há uma relação mais clara entre nível de gasto no ensino e melhores resultados no Pisa até uma faixa de 35 mil dólares (o Brasil ainda não chegou a metade disto). A partir desta linha, no entanto, há pouca relação entre maiores gastos e melhores resultados. O trabalho dá exemplos de países que chegam a investir mais de 100 mil dólares em cada um de seus alunos, caso de Luxemburgo, Noruega, Suíça e Estados Unidos. Essas nações, no entanto, não são as que apresentam melhor desempenho educacional. Coreia do Sul, Finlândia, Hong Kong e a província chinesa de Xangai gastam muito menos, mas apresentam resultados muito melhores. Que lição então esses países têm a dar às nações que almejam igualá-las em termos de desempenho? Para os autores do estudo da OCDE, há duas características em comum. A primeira delas é que há um investimento forte na qualidade do professor, em boa parte explicada pela maior atratividade dos salários dos docentes nesses países. Com isso, esses profissionais mais bem qualificados e selecionados garantem a seus alunos melhores resultados em termos de aprendizado mesmo quando dão aulas em turmas maiores. O recado, portanto, é claro: entre investir na qualidade do professor ou na diminuição do número de alunos por sala, melhor ficar com a primeira opção. A outra característica comum a todas as nações é que elas trabalham para que todas as crianças aprendam, não aceitando que nenhuma fique para trás em termos de aprendizado em relação às demais. "Países bem-sucedidos no Pisa têm altas expectativas para todos os seus alunos. Escolas e professores nesses sistemas não permitem que alunos em dificuldade fracassem. Eles não deixam que esses estudantes repitam de ano, não os transferem para outras escolas, não tentam segregá-los em outras turmas baseado em seu baixo desempenho", aponta um trecho do estudo. O trabalho, em resumo, revela que dinheiro é importante até um certo nível de gasto. A partir daí, mais importante do que quanto se gasta, é saber como se gasta.

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